quinta-feira, 7 de junho de 2012

4. Abandonos dos feitos e as presenças indígenas

Todo o empreendimento do Morgado para a região do Pardo entrou em colapso quando Martim Lopes Lobo de Saldanha, o novo titular do governo paulista (1775-1782), não lhe deu as prioridades nem as manutenções devidas. As sesmarias não progrediram, as fazendas fracassaram e os arranchados, isolados e à mercê da incômoda presença indígena, bateram-se em retirada, permanecendo apenas os estabelecidos no alto da Serra Botucatu.
Expulsos os jesuítas e o fim dos seus empreendimentos no Brasil, em 1759, os índios que residiam nas Fazendas Botucatu e Guareí tornaram-se vagantes e ameaçadores à fixação do homem branco, até que lhes sobrevieram os ataques promovidos pelo Coronel Francisco Manuel Fiúza, a serviço dos fazendeiros e sesmeiros no alto da serra, em 1770. 
Em 1780, os índios repelidos por Fiúza estavam de volta, acrescidos de outros grupos, posicionados nas encostas, onde a geografia lhes facilitava movimentos e táticas de combates, de modo a impedir o avanço e o expansionismo da civilização. 
Da Serra Botucatu em direção ao Vale do Paranapanema, pelo Pardo, são notadas tribos Caiuá-Guarani, Oti-Xavante e Caingangue, a seguir povos descritos.

Caiuá-Guarani
Há consenso que bandos de Caiuá e Guarani, propriamente dito, tenham vindo do sul de Mato Grosso, Paraná, leste do Paraguai e nordeste da Argentina, onde desapossados de seus termos procuraram segurança em terras do Planalto Ocidental Paulista, unindo-se aos destroços tribais no Pardo, após 1835.
'Caa-wa' ou Caiuá, tem significado de ‘o feio do mato’, ou espinho, no sentido de imprestável. 

Oti-Xavante
O Jê (Oti-Xavante) ou povo Xavante, integrante da família linguística Jê, tronco Macro-Jê, originário remoto do litoral maranhense, sempre numa movimentação precavida, em fuga dos desbravadores, chegou ao Mato Grosso e depois atravessou o rio Paraná – no século XVII, e escorraçado avançou pelos campos até para os lados de Bofete.
A presença branca o fez recuar, por volta de 1840, para os cerrados entre o Pardo e o Turvo, com presença notada em alguns afluentes do Turvo às duas margens.
Era chamado 'índio do cerrado', como significado do vocábulo 'xavante', embora não exista uniformidade gráfica senão o aportuguesamento fonêmico.

Caingangue
O Caingangue ou 'Caa-Caing', designativo xavante com significado de 'gente do mato', habitava matas fechadas às beiras dos rios maiores, na região do médio Paranapanema e o Pardo. Também conhecido por ‘coroado’, em causa do corte de cabelo, o Caingangue seria 'primo do Xavante', com certa semelhança de fala, por isso 'grupo macro-jê' para os especialistas.
De origem controvertida, os grupos que se apresentaram no Pardo seriam oriundos das margens do rio Uruguai, chegando aos magotes, por volta de 1800, já ocupando posições, não se misturando aos outros índios.

'Os destroços tribais
Os grupos Caiuá e Oti que já se encontravam na região do Pardo, e em todo sertão adiante da Serra Botucatu, eram considerados destroços tribais, aculturados pelas passagens de seus antepassados em aldeamentos jesuíticos nas Fazendas dos Padres, em Guareí e Botucatu (1719-1759), aonde os religiosos combinaram diferentes etnias indígenas com os brancos e negros, para formação de raça pretendida ideal, estruturada na inteligência do branco ao vigor do negro e a indolência do índio – interpretações da época, com línguas unificadas para o idioma brasileiro, o Nheengatu (origem tupi), depois oficialmente proibido.
A eles se juntaram os elementos chegadores, Oti e Caiuá, aparentados ou apenas interessados num objetivo comum de resistência aos brancos, que praticamente em nada contribuíram para a restauração das tradições, usos e costumes dos acolhedores, porque pouco tempo lhes restaria.
-o-
Capítulo atualizado


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