As tradições lembram o conquistador maior do sertão centro sudoeste paulista, 'um homem franzino, de pequena estatura e fala mansa, tipo caboclo com fronte larga, olhos miúdos e queixo fino, pela clara com sardas, quase imberbe senão uma barba rala a cobrir-lhe o rosto e fios esparsos de cavanhaque no queixo. Vestia roupas simples e rudes, pés quase sempre descalços'.
Ditavam-no humilde lavrador, nascido e residente em Pouso Alegre (MG), que chegou ao sertão à frente de um grupo de mineiros, em 1850, talvez depois, para apossar terras livres e torná-las suas, de forma mansa e pacífica.
Inteligente embora analfabeto, religioso, cidadão prestante, bom chefe de família, homem honrado e estimado por todos que a ele socorriam-se, em sua entrada pelo sertão não quisera maltratar os índios, mas sim atraí-los à civilização, com amor cristão, de modo a ser reconhecido que os próprios nativos o tratavam, respeitosamente, por 'Pae'. Abriu estradas, fundou alguns povoados e fez progredir o sertão.
Em verdade, este homem tinha o lado reverso. Era intrépido, alegre, folgazão, festeiro e perdulário tanto, diziam, que chegou a trocar uma enorme fazenda por um negro escravo, violeiro e cantador de cateretê.
Quase três décadas depois de sua entrada triunfal em terras do centro sudoeste paulista, morreu pobre e esquecido por todos, contam as memórias, exceto talvez por indígenas renegados que o mataram a golpes de borduna em algum dia do mês abril de 1875, deixando o corpo no local para ser sepultado no Cemitério de São Pedro do Turvo, numa cova que de tão simples ninguém jamais soube onde encontrá-la. Seu nome, José Theodoro de Souza.
Atualmente esta versão romântica do desbravador, quase missionária, não mais se sustenta, e até o seu retrato escrito, firmação em Leoni (1979: 2), e Marins (1985: 39), adquiriu contornos visuais à semelhança da foto que lhe é atribuída por Barros (2006: 14).
Documentos recentemente resgatados revelam José Theodoro de Souza à frente de um bando fortemente armado, para invasões predatórias em territórios indígenas, conquistar terras e entregá-las livres às mãos dos fazendeiros, resguardadas as partes destinadas aos partícipes dos massacres, e a ele próprio com direito ao quinhão adiante do Rio Turvo, que seria logo fracionado e posto a vendas.
Dele diziam quase unânimes, historiadores e memorialistas, que era nascido no Rio de Janeiro, fundamentados numa Certidão de Casamento, de 30 de janeiro de 1838, expedido pela Paróquia de Bom Jesus – Catedral Metropolitana de Pouso Alegre (MG), que “sem impedimento receberam em Matrimônio José Theodoro de Souza, filho legítimo de Ignácio de Souza Teixeira e de Francisca Magdalena de Serpa, natural do Rio de Janeiro, com Maria José filha natural de Izabel Claudina de Jesus, natural desta Freguezia. Testemunhas o Capitão José Borges de Almeida e o Sr. Manoel Leite de Mello”.
Em 2005 os autores (Prado & Sato) cuidavam tratar-se de homônimo, por decifração familial encontrada no filho Francisco Sabino de Souza, nascido do pioneiro com Francisca Leite da Silva, como o segundo descendente dentre os inscritos no inventário de José Theodoro de Souza (setembro de 1875), por ordenamento etático decrescente, e registrado na 'Lista Geral de Votantes da Região de São Domingos – Município de Botucatu, para o ano de 1859, 6º Quarteirão [Capela] São Pedro', eleitor sob nº 132, casado, com idade informada de 30 anos, assim, nascido entre 1828/1829.
A ocorrência, portanto, confirmava a certeza que o pai de Francisco Sabino de Souza, José Theodoro de Souza, não era aquele casado com Maria José em 1838, a tratar-se de homônimo.
Deste modo, não sendo aquele José Theodoro de Souza, casado com Maria José ou Josefa, o mesmo José Theodoro de Souza desbravador do sertão paulista, também a sua naturalidade, vinculada tão somente àquela certidão de casamento, deveria ser nulificada.
Posteriormente, com as colaborações dos estudiosos, Joaquim Santos Neto, Paulo Pinheiro Machado Ciaccia, e Padre Hiansen Vieira Franco, concluiu-se pesquisa inequívoca que José Theodoro de Souza nasceu de João de Souza Barboza e de Maria Theodora do Espírito Santo, em Juruoca – Aiuruoca, Minas Gerais, batizado em Capela do Senhor do Porto do Turvo, aos 27 de maio de 1804, tendo por padrinhos Manoel Joaquim da Silva e Margarida de Souza.
Esta situação harmoniza-se com os estudos de 'Barthiyra Sette e Paola Dias, em o Projeto Compartilhar, § 2º – Bernarda Maria de Almeida: 1.9-1.9.11'.
José Theodoro de Souza foi casado, em primeira nupcia, com Francisca Leite da Silva, cerimônia realizada em Camanducaia, no estado mineiro, aos 07 de fevereiro de 1823, sendo ela natural de Campanha (MG), nascida a 1º de dezembro de 1801, filha de João Tavares da Cunha e Anna Maria do Nascimento.
Deste consórcio nasceram os filhos: Flausina Maria de Souza – casada com Josué [ou José] Antonio Diniz; Francisco Sabino de Souza – casado com Maria Francisca do Carmo; Maria Teodora de Souza (ou Maria Teodora do Espírito Santo) – casada com Francisco de Paula Moraes; José Theodoro de Souza Junior – casado com Marianna de Souza Pontes; Agostinha Maria [Teodora] de Souza – casada com José Ignácio Pinto.
Dona Francisca faleceu aos 15 de dezembro de 1868, e, no ano de 1871, Theodoro desposou Anna Luiza de Jesus, nascendo-lhe José Luiz de Souza, aos 23 de junho de 1875, atribuído como filho póstumo (DOSP, 16/03/1938: 35 e segs).
Os documentos elucidaram dúvidas e contradições a respeito de José Theodoro de Souza, inclusive quanto e quando da sua morte em causa de ataque indígena.
O pioneiro não morreu trucidado por índios (Chitto 1972: 24) e nem a sua morte acontecida em abril de 1875 (Cobra 1923: 57; Giovannetti 1943: 130). Vivia, ainda, em 22 de junho de 1875 quando ditara seu testamento, e o passamento lhe ocorreria aos 24 de julho de 1875, em São José dos Campos Novos – atual Estância Climática Campos Novos Paulista, após período "em estado paralytico" (I/JTS, 1875: 111).
Consideradas as informações obtidas, José Theodoro de Souza teve os seguintes irmãos e irmãs, quase todos conhecidos no sertão paulista: Justina Maria de Souza, casada com Jeronymo José de Pontes; Francisco de Souza Ramos, casado com Maria Thereza de Jesus; Manoel Silverio de Souza; Bernardino de Souza, casado com Theodoro Maria do Nascimento; Joaquim de Souza; Antonio Theodoro de Souza casado com Ana Francisca da Silva; Anacleta Maria de Souza casada com Joaquim Antonio Miranda; e Dionísio.
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Capítulo atualizado
—1849: José Theodoro de Souza - o último bandeirante
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